Odebrecht não queria Dirceu como inimigo: filho levou R$ 500 mil
Em vídeo, delator da empreiteira conta como José Dirceu negociou repasses para o deputado Zeca Dirceu, seu filho
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Foi temendo o “poder de dano” do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu que a Odebrecht decidiu abrir os cofres da construtora. A pedido do Guerrilheiro, como era conhecido nas entranhas da empreiteira, foram realizados dois repasses de 250.000 reais cada um para o filho, Zeca Dirceu (PT-PR), durante as eleições de 2010 e 2014. Os valores foram pagos via caixa dois, conforme relatou à Operação Lava Jato o ex-executivo Fernando Reis.
“Apoiando o Zeca Dirceu, o que a gente buscava era não ter Zé Dirceu como inimigo. Apoiar o Zeca … a gente considerava que era um apoio dado a ele”, afirmou o delator. “Ele mesmo fora do governo a gente achava que podia causar dano. Ainda tinha muita influência na máquina”, continuou.
Valor dado pela Odebrecht a políticos passa de R$ 450 milhões
Nos 76 inquéritos da lista de Fachin, delatores dizem ter bancado obras e contratos e financiado MPs que atendiam a interesses do grupo
Por Da redação![]() |
Delatores da Odebrecht mostraram que influência da empreiteira atingia governos federal, estaduais e municipais (divulgação/Divulgação) |
Os crimes que serão investigados nos 76 inquéritos da lista do ministro Edson Fachin envolvem pagamentos a políticos que chegam a 451,049 milhões de reais. O levantamento foi feito pela edição desta quinta-feira do jornal O Estado de S.Paulo. Desse total, os delatores da Odebrecht dizem ter repassado 224,6 milhões de reais por obras e contratos nos governos federal, estaduais e municipais e 170 milhões de reais por medidas provisórias, emendas parlamentares e resoluções legislativas que atendiam aos interesses da empreiteira.
Segundo o jornal, o inquérito que envolve as maiores propinas que a empreiteira afirma ter pago é o da compras das medidas provisórias 470/2009 e 613/2013. A primeira, segundo a acusação da Procuradoria-Geral da República, motivou o pagamento de 50 milhões de reais para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, e em razão da segunda a empreiteira relatou ter desembolsado 100 milhões de reais para a campanha de reeleição da presidente, em 2014.
A Odebrecht
contabilizou ainda o pagamento de R$ 7 milhões no Congresso para
a aprovação das MPs. Ao todo, segundo a empreiteira, 4 milhões de reais foram distribuídos aos senadores Romero
Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), mais R$ 2 milhões ao
senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e aos deputados Lúcio Vieira
Lima (PMDB-BA) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambas as MPs favoreciam a
Braskem, uma das empresas do grupo Odebrecht. A 470 alterava a forma
de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a
613 concedia incentivos tributários a empresas químicas.
Custo. Em seu
depoimento, o empresário Marcelo Odebrecht disse que não era
incomum na edição de MPs o governo deixar “pontas soltas”. “Às
vezes, até a Receita colocava de propósito. E a gente tinha de
ajustar via relator no Congresso. Isso aumentava o famoso
custo Congresso.”
Do total de recursos citados nos
inquéritos nem tudo saiu dos cofres da Odebrecht. Alguns pagamentos
foram feitos em parceria com outras empreiteiras, quando havia
interesse em comum em jogo, explicaram os delatores.
‘Não tem como doar oficialmente R$ 2 mi ao governador do Acre’
Essa foi a resposta de Marcelo Odebrecht ao senador Jorge Viana (PT) apelidado pela empreiteira como "Menino da Floresta" - a solução foi o caixa dois
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Marcelo Bahia Odebrecht foi sincero: “Não tem como a Odebrecht aparecer como doadora oficial de 2 milhões de reais para o governador do Acre”. A frase franca revela a dimensão exagerada do pedido que o dono da maior empreiteira do país recebeu. O valor destoava dos gastos de uma candidatura naquele Estado. O solicitante era o senador Jorge Viana (PT-AC), ex-vice-presidente do Senado, apelidado pela empreiteira como “Menino da Floresta”. “Jorge Viana me ligou por volta de 2010 pedindo apoio para a candidatura do irmão Tião Viana. Eu fui muito franco e disse ‘Jorge, eu não tenho como doar os 2 milhões de reais que você está me pedindo para a campanha do governador do Acre. Isso foge de qualquer relativismo nosso interno. Por mais relação que eu tenha com você, não tenho como fazer isso. Eu aí sugeri a ele: ‘Eu tenho, você sabe, um valor que eu acerto com o [Antônio] Palocci. Se você conseguir com o Palocci que desconte do valor que eu tenho acertado com ele tudo bem.’ Ele foi lá, falou com o Palocci e o Palocci autorizou descontar da planilha italiano”, afirmou o príncipe das empreiteiras. O pedido de Viana extrapolava os limites criados pela Odebrecht para contribuições de campanha e criaria uma distorção, gerando cobranças maiores em outros Estados. “Nossos limites de doação oficial eram bem mais baixos. Eu sabia que grande parte ia sair por fora. Então acho que foi dado 500 000 reais oficial e 1,5 milhão foi pago de caixa dois”. Nem Marcelo Odebrecht nem outros subordinados que ocuparam diretorias da empresa souberam confirmar se o dinheiro, entregue em São Paulo a uma pessoa indicada pelo senador, foi mesmo aplicado na campanha eleitoral. “No caixa dois você não tem controle do que vai para a campanha e do que não vai para a campanha”, disse Odebrecht. Nem mesmo no PT, primeiro partido a centralizar a arrecadação paralela com a empresa.
Delator: ‘Raimundo Colombo estava sempre renovando os pedidos’
Em vídeo, delator da Odebrecht conta como o governador de Santa Catarina fazia sucessivos pedidos de doações financeiras
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo era conhecido na Odebrecht pela sua capacidade de estar sempre pedindo mais recursos financeiros – para ele ou para seus aliados. A afirmação é de Fernando Reis, um dos 77 executivos da empreiteira que firmaram acordo de delação premiada com a Operação Lava-Jato.
Reis contou que, em 2010, durante a primeira campanha ao governo, Colombo solicitou recursos via caixa dois. O candidato pediu valores mais vultosos, mas a ele foram oferecidos – e repassados – 2 milhões de reais.
O delator disse ainda que foi aprovada uma mudança na legislação referente à companhia de saneamento, pela qual a empreiteira tinha interesse, e que houve outras solicitações de doação por parte do governador. “Ele estava sempre renovando os pedidos”, afirmou aos investigadores da Lava-Jato.
Vídeo: delator fala sobre caixa dois de Beto Richa, o ‘Brigão’
O governador do Paraná recebeu 4,5 milhões de reais em caixa dois da Odebrecht em diferentes campanhas eleitorais
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Dois delatores da Odebrecht, Benedicto Júnior e Valter Lana, declararam aos investigadores que fizeram contribuições ao caixa dois de campanhas do atual governador paranaense, Beto Richa (PSDB), entre 2008 e 2014. O tucano levava o codinome de “Brigão”. Em 2008, ele recebeu 100 000 reais, quando concorria a prefeito de Curitiba. Em 2010, recebeu 450 000 reais. E, em 2014, o valor chegou a 4 milhões de reais, quando ele foi reeleito.
Vídeo: Alckmin deu cartão de cunhado para receber caixa dois
Delator da Odebrecht afirma que o irmão da primeira-dama Lu Alckmin não gostava de tratar por telefone e recebia envelopes de dinheiro no escritório
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
O delator da Odebrecht Carlos Armando Paschoal envolveu pessoalmente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), num acerto de pagamentos irregulares para campanhas eleitorais. Em depoimento a investigadores da Operação Lava-Jato, Paschoal afirmou que Alckmin indicou como preposto para receber 2 milhões de reais como pagamentos da empreiteira o cunhado Adhemar Ribeiro, entregando o cartão de visitas do irmão da primeira-dama Lu Alckmin. “O doutor Alckmin pediu para a secretária um cartão com o nome, os contatos, me entregou aquilo lá… Ele disse ‘esse aqui é meu cunhado, o que a gente combinou aqui…'”, disse Paschoal. Depois, parte das entregas de dinheiro ocorreu no escritório do cunhado de Alckmin, em envelopes em datas e horários combinados pessoalmente, na Avenida Brigadeiro Faria Lima. “O Adhemar não gostava de telefone. Tinha que ir lá pessoalmente.”
Vídeo: Lula foi alertado do estrago da Lava-Jato em 2014
Delator Alexandrino Alencar afirma em depoimento que esteve no Instituto Lula mais de uma vez para falar sobre a Lava-Jato
Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Um dos principais executivos da Odebrecht alertou Lula em 2014 sobre os estragos das investigações da Operação Lava-Jato, para a empresa e para o ex-presidente petista. Alexandrino Alencar, que era o porta-voz do dono do grupo, Emílio Odebrecht, com o Palácio do Planalto, diz que foi ao Instituto Lula para falar sobre as investigações. Segundo a versão do delator, o ex-presidente tinha consciência de todos os esquemas que o envolviam com as negociatas da empreiteira.
“Presidente, a questão da Lava-Jato é uma questão importante, relevante, pode levar a consequências que a gente não podemos (sic) estar medindo”, disse Alexandrino a Lula. “Da maneira que as coisas estão andando, pode ter consequências enormes. Porque nós sabemos um pedaço do grau de extensão e imagino que seja muito maior.” Segundo Alexandrino, Lula respondeu: “Estou olhando”. Lula, segundo o executivo, afirmou que “ia se capacitar para isso aí”.
O delator conta que voltou ao Instituto Lula outras vezes e que também alertou Paulo Okamotto sobre os estragos que a operação poderia causar. Okamotto é presidente do instituto e sempre atuou como braço direito de Lula. “Paulo, a operação é uma operação grande, não é coisa pequena, isso poder ter efeitos grandes”, disse Alexandrino, segundo o depoimento do próprio executivo.
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